“Eles são autoritários”, disse ao ser entrevistado pelo programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, que foi ao ar na noite de ontem (25).
Ele citou o caso dos prefeitos das pequenas cidades que não distribuem camisinhas diretamente à população carente por temer desagradar "ao padre".
Assim, o que ocorre, segundo ele, é que as camisinhas distribuídas pelo governo federal nos postos de saúde são retiradas mais por pessoas que correm menos risco de contrair o vírus da Aids, como as mulheres casadas.
As garotas da periferia não aparecem nos postos porque têm vergonha, disse o médico. Para ele, o poder público deveria levar o preservativo até elas, mas a pressão dos religiosos contra essa tipo de iniciativa de prevenção é muito forte.
Varella disse que a consequência disso é uma epidemia de gravidezes precoces, condenando as jovens à pobreza porque, para cuidar dos filhos, elas acabam abandonando o estudo e muitas vezes recorrendo ao tráfico de drogas para sobreviver.
Questionado se aceitaria um convite para assumir o Ministério da Saúde, Varella disse que não, porque, argumentou, para ser um bom ministro não é necessário ser médico, mas um bom administrador, alguém que conheça a máquina administrativa do governo e que tenha força política para fazê-la funcionar. Ele disse que o melhor ministro da Saúde que o Brasil já teve, o José Serra, não é médico.
Ainda assim, se fosse o ministro da Saúde, em uma situação hipotética, Varella disse que daria prioridade ao planejamento familiar. Disse que o Brasil em 1970 tinha 90 milhões de habitantes e hoje mais de 190 milhões, o que é um crescimento populacional que dificulta a adoção de uma política de bem-estar social.
Ele elogiou a luta de José Alencar, ex-vice presidente da República, contra o câncer, expondo-se ao público, diferentemente do que ocorria até recentemente, quando as pessoas evitam revelar que tinha a doença e às vezes a própria família não informava ao doente do que sofria.
Mas discordou da afirmação segundo a qual Alencar teve sua vida prolongada por causa de sua vontade de viver. Segundo ele, todo mundo gosta de viver e a tal afirmação desmerece aqueles que morrem de câncer sem que tivessem a sobrevida que Alencar teve.
Varella, que é ateu, disse que nenhum de seus pacientes que tenham passado pela experiência da quase-morte lhe contou como seria o depois da morte. Ele mesmo, disse, quando esteve muito ruim por ter contraído a febre amarela, “não viu nada”.
Fonte: Paulopes
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