quarta-feira, 28 de março de 2012

Davi e o Poder do Louvor


Pr. Anísio Renato de Andrade


O louvor eficaz agrada a Deus e afugenta os demônios.
Certo dia, Deus mandou que o profeta ungisse um novo rei sobre Israel. “Então Samuel tomou o vaso de azeite, e o ungiu no meio de seus irmãos; e daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para Ramá. Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor” (ISm.16.13-14).
A presença do Espírito de Deus sobre as pessoas no Antigo Testamento sempre se relacionava a uma missão específica. Ele atuava sobre aqueles que foram designados pelo Senhor como profetas, reis, juízes, etc.
Ninguém pode ter o Espírito de Deus e ser, ao mesmo tempo, possuído por demônios. Quando o Espírito Santo saiu de Saul, deu lugar a uma entidade maligna que, até então, não tinha permissão para dominá-lo. Saul começou a ser atormentado, como acontece com tantas pessoas ainda hoje. Não queremos dizer que esta seja a única causa destes males, mas a presença demoníaca pode produzir doenças, depresssão, pânico, etc.
Muitos anos depois, após seu pecado e arrependimento, Davi orou dizendo: “Não retires de mim o teu Espírito Santo” (Sl.51). Ele sabia o que havia sucedido ao rei Saul e temia que o mesmo lhe pudesse ocorrer.
“Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito maligno da parte de Deus te atormenta” (ISm.16.15).
Saul, o poderoso rei, não entendia o que estava acontecendo, mas os seus servos tiveram pleno discernimento, inclusive do que poderia ser feito para minimizar o problema. O tormento era resultado da ação de um demônio da parte de Deus, ou seja, enviado por Deus (2Ts.2.11). Afinal, o Senhor é soberano sobre todo o universo e até os demônios obedecem às suas ordens.
Disseram mais os criados de Saul: “Dize, pois, senhor nosso, a teus servos que estão na tua presença, que busquem um homem que saiba tocar harpa; e quando o espírito maligno da parte do Senhor vier sobre ti, ele tocará com a sua mão, e te sentirás melhor. Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me, pois, um homem que toque bem, e trazei-mo. Respondeu um dos mancebos: Eis que tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar bem, e é forte e destemido, homem de guerra, prudente em palavras, e de gentil aspecto; e o Senhor é com ele” (ISm.16.16-18).
Saul pediu um músico que tocasse bem. Aqui entra a questão técnica do louvor. Se Saul esperava música de boa qualidade, creio que Deus merece muito mais do que isso. A qualidade técnica não é nossa prioridade máxima, mas tem sua importância. Se Davi tocasse mal, não seria chamado diante do rei.
Além de tocar bem, Davi tinha uma série de qualidades, apresentando rara combinação de coragem, prudência e gentileza. O mais importante, porém, era a presença de Deus em sua vida.
Disse o servo de Saul: “Tenho visto o filho de Jessé”. Nós também somos observados em todo o tempo. Naquele momento, um testemunho maravilhoso foi dado acerca de Davi. O que pode ser dito a nosso respeito? Qual é a nossa reputação? Ela pode influenciar de um modo ou de outro nas oportunidades que surgem em nosso caminho e isto pode ser confundido com sorte ou com a falta dela. O que é dito a nosso respeito afeta a aceitação da nossa pessoa e interfere no resultado do nosso trabalho.
Enquanto cuidava das ovelhas, Davi tocava para Deus. Sua fidelidade no campo, sem platéia e sem aplausos, fizeram-no apto para tocar na presença do rei de Israel. Ele estava preparado para tocar bem porque era zeloso no que fazia. E o desafio maior não seria a presença do rei, mas a presença de um demônio que o atormentava. Davi estava preparado para isto também. Portanto, além da questão técnica, havia o aspecto espiritual.
“Pelo que Saul enviou mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi, teu filho, o que está com as ovelhas. Jessé, pois, tomou um jumento carregado de pão, e um odre de vinho, e um cabrito, e os enviou a Saul pela mão de Davi, seu filho. Assim Davi veio e se apresentou a Saul, que se agradou muito dele e o fez seu pajem de armas. Então Saul mandou dizer a Jessé: Deixa ficar Davi ao meu serviço, pois achou graça aos meus olhos” (ISm.16.19-22).
Jessé enviou muitos pães para Saul, pois aquela era a especialidade de sua terra. Belém significa “Casa de Pão”.
“E quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele” (ISm.16.23).
Eis o exemplo de um louvor poderoso. O Espírito Santo operava em Davi, mas o demônio não saía quando aquele jovem entrava no recinto. Entretanto, ele não resistia quando o instrumento era tocado. Davi não dava atenção ao demônio nem dialogava com ele, mas louvava ao Senhor. Não sei se aquele louvor era extravagante, mas era, certamente, irresistível.
Uma forma superficial de interpretação do texto, poderia levar alguém a dizer que a harpa tem poder, assim como muitos pensam que o toque do shofar também tem poder, mas precisamos lembrar que por trás do instrumento tem uma pessoa, uma vida, uma reputação, um vínculo com Deus e uma boa condição espiritual. O instrumento pode ser qualquer um, ou até nenhum, embora seja desejável sua utilização.
Quando ouvimos o apito do guarda de trânsito, paramos o carro ou o colocamos em movimento. Será que o poder está no apito? Sabemos que não. Da mesma forma, não devemos mistificar instrumentos ou objetos utilizados no culto.
O demônio saiu e Saul sentiu alívio. Daí em diante, tornou-se dependente de Davi para livrá-lo temporariamente do espírito mau, mas sua condição espiritual não foi regularizada. Davi tornou-se pajem de Saul, acompanhando-o por toda parte. Muitas pessoas podem ser aliviadas do seu mal durante o culto, mas precisam acertar suas vidas com Deus. Não podem depender para sempre do músico ou do pastor. Não será o bastante ter uma bíblia em casa ou uma coleção de CD’s gospel ou aprender a cantar as músicas evangélicas.
Saul era o grande rei de Israel, mas precisava de Davi, um simples pastor. Assim também nós precisamos uns dos outros. Porém, Davi não seria suficiente. Saul precisava de Deus.
O rei obteve, temporariamente, o benefício indireto da presença do Espírito Santo em Davi. Como costumamos dizer, ele “pegou carona” na unção de Davi, mas isto não seria uma solução efetiva.
O melhor líder espiritual não será suficiente para resolver o problema de ninguém. Ele é útil e necessário, mas a situação pessoal com Deus precisa ser resolvida.
Não adianta fazer do líder um guru, protetor ou médico espiritual. Saul teve relação semelhante com Samuel, chegando ao ponto de invocá-lo depois de morto. É o que acontece quando as pessoas não têm um relacionamento pessoal com Deus e chegam ao extremo de invocar os mortos.
E Davi foi morar no palácio, tornando-se pajem de Saul. Repetidas vezes o espírito mau veio e foi afugentado, mas o problema não foi resolvido. Isto nos faz lembrar as palavras de Jesus registradas no Novo Testamento:
“Ora, havendo o espírito imundo saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, chegando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entretanto, habitam ali; e o último estado desse homem vem a ser pior do que o primeiro” (Mt.12.43-45).
E o estado de Saul piorava cada vez mais. No início, ele era atormentado. Depois, começou a profetizar mediante a ação daquele demônio (ISm.18.10-11). Isto podia não parecer um agravamento da situação. Alguém poderia até se interessar pelas profecias de Saul, mas isto nos mostra que a ação diabólica também produz cenas com aspecto religioso e supostas adivinhações ou previsões. Depois de uma dessas manifestações, Saul tentou matar Davi, colocando fim ao bom relacionamento que tinham.
A situação de Saul se agravou até a sua morte. Ele não se arrependeu de seus pecados, nem consertou sua vida diante de Deus. Que esta história nos sirva de lição. Os que hoje buscam em Cristo libertação, cura e prosperidade precisam também entregar a ele as suas vidas. Libertação sem arrependimento é uma ilusão que dura pouco. Portanto, são propícias as palavras ditas por Pedro no dia de Pentecoste:
“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” (At.2.38).

Fonte: Pr. Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologia
anisiorenato@ig.com.br


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